O debate público brasileiro tem revelado um padrão incômodo: a defesa da imprensa varia conforme a conveniência política. Dois episódios recentes mostram isso com clareza.
No caso envolvendo a governadora Fátima Bezerra (PT), que se recusou a conceder entrevista à jornalista Carol Ribeiro, a reação foi imediata e ruidosa. A recusa foi tratada como falha de diálogo e desrespeito ao jornalismo, gerando críticas amplas de profissionais, veículos e opositores políticos.
Já em Mossoró, a situação foi muito mais grave — e, paradoxalmente, recebeu muito menos atenção. O jornalista Ronny Holanda afirmou ter sido agredido pelas costas e algemado por servidores municipais, incluindo guardas ligados ao Secretário de Segurança do prefeito Allyson Bezerra (União Brasil). Mesmo assim, a repercussão foi tímida e marcada por um silêncio seletivo.
A discrepância evidencia como a defesa da liberdade de imprensa muitas vezes é filtrada por interesses partidários. Enquanto o episódio envolvendo Fátima foi amplificado por quem desejava atacá-la politicamente, o caso de Ronny pareceu inconveniente para parte do establishment local — e, por isso, quase ignorado.
A postura da Prefeitura de Mossoró reforça o problema: não houve afastamento imediato dos envolvidos, e a nota oficial preferiu destacar “desacato”, desviando o foco da violência e do abuso de autoridade.
A comparação entre os dois casos é clara: se a recusa de entrevista provoca indignação, a agressão física contra um jornalista deveria gerar reação ainda maior. Quando isso não acontece, o que está em risco não é apenas a coerência do debate público, mas a própria solidez democrática.
